III Simpósio A Vida Medicada: A Medicalização da Infância

24/09/2015 20:14

Cartaz Vida Medicada

O III Simpósio “A Vida Medicada: A Medicalização da Infância”, que ocorrerá nos dias 19 e 20 de novembro de 2015 no Auditório da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC), busca discutir a partir diversas perspectivas (sociológica, histórica, cultural e de saúde) alguns dos conceitos, teorias, argumentos, dificuldades e certezas pelos quais foram construídos os saberes utilizados para a detecção precoce de patologias psiquiátricas na infância, tais como TDHA, dislexia e outras. Assim como as maneiras de objetivação dos denominados transtornos infantis e os diferentes mecanismos e estratégias de prevenção e identificação de supostos transtornos de comportamento e da aprendizagem em crianças principalmente em idade escolar. Por sua vez, o simpósio pretende gerar um espaço de interação e troca com pesquisadores brasileiros e estrangeiros interessados em discutir os limites e dificuldades do processo de medicalização da infância. Nesse sentido foram definidos três eixos temáticos do evento:

  1. O DSM e a proliferação de novos diagnósticos: procura indagar sobre a influência do DSM na multiplicação de novos transtornos e os diferentes mecanismos de categorização dos sofrimentos psíquicos.
  2. A medicalização da infância em perspectiva histórica: pretende compreender a partir da analise histórica o processo de criação dos chamados transtornos mentais da infância, o sistema classificatório utilizado, o surgimento dos testes e os modelos estatísticos, assim como as mudanças, continuidades e descontinuidades no saber médico psiquiátrico como parte da medicalização infantil e a detecção de diagnósticos precoces.
  3. Ética, indústria farmacêutica e medicalização da infância: busca analisar criticamente o papel da indústria farmacêutica no processo de medicalização infantil, suas implicações éticas e os dispositivos de patologização dos sofrimentos psíquicos.

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Inscreva aqui o seu trabalho  Prazo final: 30/09/2015

As apresentações dos trabalhos serão na modalidade comunicação oral, com duração de 20 minutos.

Fale conosco: avidamedicada@gmail.com

Blog Vida Medicada: https://vidamedicada.wordpress.com/

PROFESSORA ILSE SCHERER-WARREN (PPGSP) RECEBE PRÊMIO FLORESTAN FERNANDES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA

23/07/2015 12:12

 

Texto em Homenagem à profa. Ilse Scherer-Warren, lido durante a entrega do prêmio Florestan Fernandes, durante o 17º Congresso da SBS, realizado em Porto Alegre (20 a 23/07/2015)

 

É com grande prazer que prestamos, aqui, esta tão merecida homenagem à profa. Ilse Scherer-Warren pela sua trajetória acadêmica na área da Sociologia, em especial por sua produção que tem marcado o campo de estudos sobre os movimentos sociais no Brasil e na América Latina.

Professora do Depto. de Ciências Sociais da UFRJ de 1974 a 1981 e do Depto. de Sociologia e Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC desde 1981, a profa. Ilse desenhou uma trajetória de destaque na academia brasileira por sua rica e fecunda produção intelectual.

Graduada em Ciências Sociais e mestre em Sociologia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; doutora em Sociologia pela Université de Paris X, Nanterre; Pós-doutora pela Universidade de Londres (1987) e pela Universidade de Brasília (2005), pesquisadora do CNPq PQ IA, Ilse construiu um currículo rico em atividades de pesquisa, ensino e extensão, cujo tamanho e densidade inviabilizam, neste curto espaço de tempo, a sua fiel apresentação.

Entre as diversas atividades desenvolvidas desde o seu ingresso na academia (inicialmente no IFCS/UFRJ) destaca-se a criação, em 1983, do Núcleo de Pesquisa em Movimentos Sociais no âmbito do ProgramadePós-GraduaçãoemSociologia PolíticadaUniversidadeFederaldeSantaCatarina. Criado a partir de umadisciplina (denominada “MovimentosSociais”) voltada para o estudodequestõesteóricasepráticasdasmúltiplasformasdeaçãocoletiva, o NPMS se tornou, nesses 30 anos de existência, em uma referência central nos estudos sobre os movimentos sociais.

Em entrevista realizada por Marco Antonio Perruso (em janeiro de 2007, publicada em coletânea de 2015), podemos entender melhor esse interesse e vínculo (tão apaixonado) pelo tema dos movimentos sociais. Embora já tivesse se sensibilizado por esta temática na época da graduação, foi a partir do mestrado em Sociologia Rural que os movimentos sociais passaram a se inscrever com força em sua trajetória de pesquisa, assumindo – a partir de seus estudos sobre o movimento camponês e o sindicalismo rural -, uma “opção pelos ‘de baixo’” na desde sempre contestada hierarquia social. Daí para a frente, essa temática foi tomando corpo em sua vida acadêmica, consolidando o seu interesse pelos movimentos sociais quando da ocasião de seu doutoramento sob a orientação de Alain Touraine, em 1971. Sob a influência marcante da Sociologia francesa, Ilse assume, já lecionando na UFSC, a sua paixão pelo tema, pesquisando, entre outros, os atingidos por barragens, o movimento ecológico e os movimentos de pastorais. Além da produção acadêmica, também passou a atuar em parcerias com ONGs, como o CECA (Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria), de São Leopoldo\RS, a FASE (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional) no Rio, e o CECCA (Centro de Estudos, Cultura e Cidadania), em Florianópolis, dentre outras.

Um dos frutos dessas pesquisas foi a publicação do trabalho “Movimentos Sociais – um ensaio de interpretação sociológica” onde lançaum novo olhar sobre a questão dos movimentos sociais que transcende a dimensão da classe social. Este trabalho marca o início de um processo de renovação teórica no campo acadêmico, resultante do cruzamento entre o suporte teórico advindo do “paradigma europeu” nos estudos sobre os movimentos sociais (Touraine, Castells, Guatarri, Melucci, entre outros) e a emergência de novos atores e formas de organização social, como o movimento de mulheres agricultoras, o movimento ambientalista, feminista, entre tantos outros. É neste sentido que apresenta (em 1984, na ANPOCS), o trabalho intitulado “O Caráter dos Novos Movimentos Sociais”, impactando, de forma inovadora, as investidas teóricas neste campo. A abordagem dos “Novos movimentos sociais” recebeu reforço e reconhecimento também com a publicação, com Paulo Krischke, da obra “Uma Revolução no Cotidiano – os novos movimentos sociais na América Latina” de 1987.

Outra importante renovação no campo de estudos sobre os movimentos sociais é apresentada no livro “Redes de Movimentos Sociais” (de 1996). Nesta obra, Ilsevai marcar, em diálogo com a literatura internacional, uma nova forma de analisar a temática dos movimentos sociais. Se até então os movimentos sociais eram vistos, em boa medida, a partir de sua identidade e organização internas, essa nova abordagem passa a vê-los pela perspectiva das articulações e relações sociais. Passa-se, então, de um olhar interno para um olhar externo, e que incorpora elementos de fluidez, informalidade, diversidade e pluralidade. Podemos dizer que a autora antecipou uma nova fase nos estudos sobre os movimentos sociais, onde a perspectiva das redes tornou-se central. Neste período, seus estudos deram vazão a uma série de textos e artigos, publicados tanto em âmbito nacional como internacional.

É desnecessário ressaltar, em detalhes, os impactos desses trabalhos na produção acadêmica do país. A publicação de Silva et al intitulada “Movimentos sociais e redes: reflexões a partir do pensamento de Ilse Scherer-Warren” na revista Serviço Social e Sociedade, reflete bem a dimensão da importância e do alcance de sua produção em diferentes áreas do conhecimento.

Em íntima articulação com a temática da exclusão e dos movimentos sociais, suas preocupações mais recentes envolvem não apenas a atuação das ONGs e de outros atores políticos atuantes no plano nacional e latinoamericano, como as Políticas de inclusão, desenvolvendo pesquisas sobre a política de cotas no ensino superior e suas relações com os movimentos sociais e setores estratégicos da sociedade civil.

Assim, por si própria, a amplitude de sua obra já justificaria esta merecida homenagem. No entanto, gostaríamos de destacar três dimensões que têm feito diferença no legado que tem construído na área de Sociologia do país.

Em primeiro lugar, seu papel na renovação teórica no campo de estudos sobre os movimentos sociais no Brasil e na América Latina. De fato, a influência e o diálogo que mantém com a produção internacional, diferente de uma mera transposição de teorias estrangeiras, tem resultado em importantes inovações na produção teórica nacional;

Em segundo lugar, seu comprometimento e engajamento com a questão das múltiplas formas de exclusão social. Movida pelo desejo de transformação social, Ilse nunca se esquivou em assumir e reconhecer o seu papel, de dentro e de fora do campo acadêmico, na luta pela promoção da justiça social;

Em terceiro lugar, a sua postura, como intelectual, pautada no diálogo, na amizade e no respeito à pluralidade. Em especial, a sua humildade e generosidade, e que são (de forma unânime) reconhecidas por colegas, alunos e ex-alunos. É recorrente, nas múltiplas falas de agradecimento proferidas por ex-orientandos na ocasião do IV Seminário Nacional “Movimentos sociais, participação e democracia”, o uso de expressões como: cumplicidade, apoio, leitora atenta, respeito às ideias e processos diferentes de cada pessoa, questionadora perspicaz, gratidão, incentivadora carinhosa, acolhida, aconchego, engajada politicamente, compromisso, humildade e generosidade…

Assim, em nome de toda a comunidade acadêmica da área de Sociologia, esta homenagem reflete o profundo reconhecimento do talento, da fecundidade e da generosidade que tem marcado a vida acadêmica de nossa homenageada, profa. Ilse Scherer-Warren.

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